Minha avó dizia: “Depende do
dependendo”... É uma forma diferente de dizer que os fatos e as coisas ditas
têm, no mínimo, duas versões. Aqueles que querem se defender, ou defender uma
ideia, dizem que “depende do ponto de vista”; os que querem “justificativas”
afirmam que “é uma questão de interpretação”. Os filósofos de plantão vão
questionando “por que ou para quê?”, “de onde ou para onde?” e etc. Quer ver um
exemplo? Se encontrarmos um papel escrito “6”, caído ao chão, haverá muitos que
dirão ser o algarismo “seis” e aqueles que afirmarão se tratar do algarismo
“nove”. Nesse caso, “depende da forma que se vê”. Assim também são as questões
que envolvem a interpretação de questões doutrinárias, ou dogmáticas. O dízimo,
por exemplo: É obrigatório ou voluntário? O dízimo só tinha validade na Lei
Mosaica ou tem validade, também nos tempos da Graça? Para entender se há, ou
não, legalidade da questão do dízimo é necessário que se entenda a origem e a
significância aplicada do mesmo. É necessário estudar e entender o dízimo em
pelo menos três formas:
Antes da Lei
Parece que o dízimo era
voluntário. Não há nenhuma menção de obrigatoriedade de dízimo nessa época.
Temos apenas dois exemplos bíblicos de dízimo, sendo um com Abraão (Gn 14.20): "E
bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E
Abrão deu-lhe o dízimo de tudo". Aqui encontramos Abraão dando o
dízimo a Melquisedeque, e não era só de alimentos, mas também de prata e ouro.
Gn 14.11 diz que Abraão Tomou todos os bens de Sodoma e de Gomorra, e no
versículo 20 diz que Abraão deu o dízimo de tudo. Então temos dízimo em moeda.
Outra passagem, agora com Jacó, em Gn 28.22: “Então esta pedra que tenho
posto como coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te
darei o dízimo”. Isto não
quer dizer, que apenas estes dois homens praticaram o dízimo. Se eles o fizeram
é porque havia exemplos de outras pessoas, logo, a prática existia. Contudo,
não encontramos nenhuma regra para se dizimar antes da Lei.
Durante a Lei
Aqui a coisa muda de figura. Deus
exige do povo a entrega dos dízimos. Os dez por cento passam a ser uma
obrigatoriedade do povo hebreu para com a casa do Senhor, pois esse dízimo
seria o que iria alimentar os sacerdotes e suas famílias, já que os mesmos
viviam em função do serviço religioso. Então, dez por cento de tudo o que era
produzido deveriam ser entregues da Casa do Tesouro. Esta obrigatoriedade
vigorava nos dias de Jesus: Mt 23.23 – “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes
omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia
e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas”; Lc 18.12 –
“Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho”. O que
muitos alegam é que o dízimo no AT era dado em cereais, animais, e outros
produtos da terra, mas nunca em dinheiro. Por isto a forma de se dizimar hoje é
errada. Bom, sabemos que para tudo há um propósito. Por que Deus exigiu o
dízimo em cereais, animais, e demais produtos da terra em vez de dinheiro? Isto
se deve ao fato de o dízimo ser as primícias de tudo o que se produz. Deus não
exigia apenas o dízimo. Deus exigia as PRIMÍCIAS. Os primeiros frutos, os
primeiros animais deveriam ser dados ao Senhor quem deu a eles a terra para
plantar, o gado para lhes proporcionar riquezas, etc. Deus tirou o povo do
Egito no qual eram escravos e tudo o que eles produziam era para Faraó. O povo
não possuía nada seu. Mas quando Deus lhes dá a terra, lhes dá a liberdade e o
poder de possuírem o que era deles de fato. Então Deus exige as primícias da
terra em gratidão ao que fizera por eles. Para que o povo nunca esqueça que
Deus é o dono de tudo. Então quando faziam as colheitas, antes de venderem os
produtos, primeiro tiravam as primícias e ofertavam ao Senhor. Por isto não
dizimavam em moeda, pois não podiam negociar as primícias do Senhor. O dízimo
tem também este propósito: Fazer-nos entender que o que temos, temos por causa
de Deus.
Depois da Lei encontramos também
o dízimo
É aqui que a polêmica começa.
Para os defensores do fim do dízimo, o Novo Testamento não valida o dízimo.
Será que não? O argumento de Mateus 23.23 é rejeitado pelos que não aceitam a
validade do dízimo hoje, pois dizem que Jesus está falando a pessoas que viviam
sob a lei. Mas eu pergunto, para quem Jesus iria falar se todos viviam debaixo
da Lei em sua época, inclusive Jesus? É bom não esquecermos que a Igreja só
veio a ser inaugurada após a morte e ressurreição de Jesus. Portanto era
impossível Jesus se dirigir a Igreja, propriamente dita, se a mesma ainda
estava oculta. Então quando Jesus disse ao fariseu que ele deveria continuar
dando o dízimo e também não se esquecer de praticar os bons costumes, Jesus não
estava apenas censurando, mas ensinando como convém um servo de Deus se portar.
Outro argumento dos defensores do fim dos dízimos é que os apóstolos não
falaram de dízimo à igreja. Eu entendo que a razão de os apóstolos não
mencionar diretamente o dízimo na igreja, em seus dias, é pelo fato de que este
não era um problema existente na igreja. Os crentes primitivos eram tementes a
Deus e vinham de uma tradição milenar, onde dizimar era uma obrigação, então
para eles o dízimo era uma coisa lógica e faziam isto já por natureza, não
havendo necessidade de se falar no assunto. Ilustração: Igreja na Coréia -
Alguém perguntou ao membro de uma igreja na Coréia do Sul se todos os membros
eram dizimistas. O membro respondeu "pode existir membro que não seja
dizimista?". Os cristãos do primeiro século levavam tão a sério a questão
dos dízimos e ofertas que eles chegavam ao ponto de vender suas propriedades e
levar o dinheiro aos pés dos apóstolos para que o dinheiro fosse usado conforme
as necessidades da igreja. (At 4.34). Eles não eram obrigados a vender seus
bens e doar à igreja, era o Espírito Santo quem os constrangia a isto. Eles
davam muito mais do que 10%. Eles davam tudo. A diferença do dízimo da Lei com
o dízimo da Igreja é que na Lei davam-se as primícias e viviam do resto. Na
igreja do primeiro século, davam-se tudo e dividiam tudo. Atos 2. 44 diz que os
crentes tinham tudo em comum, ou seja, nada era deles próprios, mas da
comunidade. Portanto, na Graça, nós não somos obrigados a dar, mas somos
constrangidos pelo Espírito Santo a doar tudo o que temos ao Senhor. Nós mesmos
somos propriedade de Deus, logo, não vivemos para nós mesmos, conforme Gl 2.20:
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em
mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me
amou, e se entregou a si mesmo por mim..”.
Conclusão
Como
membros da Igreja Presbiteriana do Brasil qual deve ser a nossa posição quanto
ao dízimo? Somos obrigados a dizimar ou isso é uma questão de voluntariedade? A
IPB é “uma comunidade constituída de
crentes professos juntamente com seus filhos menores e outros menores sob
sua guarda, associados para os fins mencionados no Art.2 e com governo próprio,
que reside no conselho”, (Art.4,
CIPB). Uma vez que somos membros de uma Igreja Presbiteriana do Brasil gozamos de Direitos e Deveres,
conforme o CAPÍTULO III – MEMBROS DA
IGREJA, Seção 1ª. Os Privilégios
e Direitos dos Membros estão relatados no Art.13, parágrafos 1, 2 e 3. E o Art.14 tratando dos Deveres
dos Membros, sinaliza a importância das contribuições do dízimo e das
ofertas na alínea “c”: “Sustentar
a Igreja e as suas instituições,
moral e financeiramente”. Estas menções à CIPB são exclusivas, e alusivas, aos Membros Comungantes da Igreja Presbiteriana do Brasil. Há
também o compromisso, que no momento da Pública Profissão de Fé ou de sua
Recepção, todo membro assume ao ser questionado sobre estar de acordo em
“contribuir financeiramente com seus dízimos e ofertas”; e todos, sem exceção,
respondem afirmativamente. Portanto, podemos concluir que o Dízimo não é obrigatório e nem tão pouco voluntário. Mas,
é o dever de todos os
cristãos entregarem seus Dízimos e Ofertas na Casa do Senhor. Assim, com o
Espírito Santo que nos constrange a contribuir com nossos dízimos e ofertas,
todos nós, os membros da Igreja
Presbiteriana do Brasil, temos o dever
de contribuir com nossos dízimos e ofertas.
O dinheiro que a igreja recebe
dos fiéis deve ser usado em benefício dos fiéis. Assim como os impostos e taxas
que são cobrados da sociedade pelo Governo devem ser usados para o benefício
dos cidadãos, assim são as contribuições que fazemos na igreja. Os que
trabalham por tempo integral na obra do Senhor, devem desfrutar dos benefícios
arrecadados porque isto é bíblico, 1Co 9.10; 1Tm 5.18. Mas não devem abusar das
finanças da igreja, porque elas não lhes pertencem.